Nesta resenha, a professora Isabel Travancas apresenta o livro “Prezada editora – Mulheres no mercado editorial brasileiro”, publicado em 2021 e organizado por Ana Elisa Ribeiro, Maria do Rosário Pereira e Renata Moreira. Esse livro é o quinto volume da “Coleção Pensar Edição”, das editoras Moinho e Contafios. Nos sete artigos que compõem a obra, as autoras apresentam casos de editoras dirigidas por mulheres, cujos trabalhos são de grande relevância no mercado editorial brasileiro.

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Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil mais recente, publicada em 2019, havia no país 54 milhões de leitoras e 45 milhões de leitores. As mulheres leem mais que os homens nas três categorias de livros: geral, literatura e outros formatos.
Da mesma forma, quando perguntados sobre se houve influência de alguém para gostar de ler, a resposta dos entrevistados e entrevistadas é sim, e a figura da mãe aparece na frente, seguida da professora. Portanto, fica evidente que as mulheres, no Brasil, de maneira geral, leem mais que os homens e são uma referência de estímulo à leitura.
Entretanto, se olhamos para a história do livro no Brasil, não vemos mulheres atuando na edição de livros. No início, estrangeiros – Isidoro da Fonseca, os irmãos Garnier, Laemmert, Francisco Alves – e, depois, brasileiros como Francisco de Paula Brito, Monteiro Lobato, José Olympio, entre outros. Os homens, até boa parte do século XX, estavam no comando das editoras, criando seus catálogos, selecionando as obras a serem publicadas e cuidando da edição dos livros. E sabemos que isso não é uma exclusividade do Brasil. O mercado editorial esteve e ainda está sob o comando dos homens.
Em "Prezada editora – Mulheres no mercado editorial brasileiro", publicado em 2021 pelas editoras Contafios e Moinhos, ambas de Belo Horizonte, temos um conjunto de sete artigos, todos assinados por mulheres, que apresentam e analisam exclusivamente editoras dirigidas por mulheres. São elas: Arlete Soares, Aparecida Nóbrega e Rina Angulo; Lina Tâmega Peixoto; Rose Marie Muraro; Maria Mazarello Rodrigues; Zahidé Lupinacci Muzart; Sandra Espilotro; e Rejane Dias.
O artigo que abre o livro, “Lina Tâmega, uma editora no exercício da poesia”, é de Ângela Laguardia e apresenta uma poeta, professora e crítica literária de Cataguases, Minas Gerais, que, em 1948, criou, com o poeta Francisco Cabral, a revista literária Meia Pataca, uma bela publicação, na qual ela atuava em todas as frentes: da secretaria à edição, passando pela diagramação e pela produção de resenhas. A revista foi, para ela, um elo com muitos escritores, como foi o caso de Cecília Meireles. Nesse ínterim, Lina escrevia seus livros. O primeiro deles, um livro de poemas - Algum dia -, é de 1953. Trinta anos depois, ela publica Entretempo. Simultaneamente, constrói sua carreira como professora, cursando Letras Clássicas na PUC-Rio, desenvolvendo pesquisa sobre lirismo e produzindo vários artigos sobre Cecília Meireles. Em 2008, publica 50 poemas escolhidos pelo autor e, em 2010, Prefácio da vida. Sua poesia tratava da escritura, da relação com o texto e da construção poética, como em “Não é pedra a memória”:
Escrevo debruçada na mesa Como se alinhavasse O espaço Aos atavios do ermo. Preciso alvorecer o esquecimento Empilhado na estante como um livro Em que se vai lendo lenta A flora da alma imaginária.